[Resenha] Ensaio sobre a cegueira

"Ensaio sobre a cegueira é uma espécie de imago mundi, uma imagem do mundo em que vivemos: um mundo de intolerância, de exploração, de crueldade, de indiferença, de cinismo. Mas dirão: 'Também há gente boa'. Pois há, mas o mundo não vai nessa direção. Há pessoas humanizáveis, pessoas que vão se humanizando por um esforço de supressão de egoísmos. Mas o mundo no seu conjunto não vai nessa direção."
"Saramago anuncia a cegueira da razão", Folha de S.paulo, São Paulo, 18 de outubro de 1995 (Extraído do livro "Palavras de Saramago")





A priori, devo explicar que esta é uma resenha que não tem como função fazer uma análise minuciosa do livro, e mesmo que o fosse, deixaria muita coisa de fora por se tratar de uma obra tão completa e cheia de elementos que valem a pena serem analisados. A resenha de hoje é uma dica minha para todos, sem exceções, lerem esta obra. É um livro sobre nós humanos e o que estamos fazendo com nossa humanidade.

Só o título abre várias interpretações, segundo o dicionário a palavra ensaio exerce dois planos: Ensaio¹ "Prova, experiência, exame, estudo, tentativa, treino". Ensaio² "Estudo literário, menor que um tratado, sobre determinado assunto". Após a leitura você pode tirar suas conclusões sobre o significado do título, mas por se tratar de uma obra literária, duvido muito que o leitor chegue em uma ideia única. Eu mesma, até agora continuo a pensar que o título é tudo isso e ainda mais.

A primeira coisa que me chamou atenção, quer dizer, percebi isso apenas na página 25, mas enfim, é que na história não nos é apresentado o nome de ninguém. Não sabemos se se chamam João, Pedro, Tiago, Maria, Madalena, nada! mas então, como o reconhecemos? Alguns por suas profissões, outros por características físicas e por ai vai. 
É uma história com tempo linear, embora não haja especificação em datas ou eras, mas sabemos tratar de uma época conteporânea, pois há referências a aparatos tecnológicos como semáforos, automóveis, e aliás, semáforo é o começo da história.

No livro todos as pessoas são atacadas pela tal da "cegueira branca", uma cegueira incomum, única, jamais datada na história da civilização. Ao ínvés da famosa negritude, mal dos cegos "normais" os habitantes desta cidade/estado/país/mundo (no livro não há refenrências) são contagiados pelo primeiro cego, parado ao sinal de trânsito, a espera de mudar para a cor verde de siga em frente. Segundo ele, que no livro o conheceremos como o primeiro cego, é como estar imerso numa piscina de leite.

O contágio é rápido e ao governo não há outra solução que não seja por todos os cegos de quarentena. A situação num determinado momento se descontrola, já não há lugar para por tantos cegos, não há como escapar da cegueira branca. mas o foco está mesmo num determinado grupo instalado em um manicômio. Foram os primeiros a cegarem. Os nomes são: A rapariga dos óculos escuros, o velho da venda preta, o primeiro cego, a mulher do primeiro cego, o garotinho estrábico, o cão das lágrimas (aparece mais ao final da história), o médico e a mulher do médico. Aí está um ponto importantíssimo: A mulher do médico não cega.

"As minhas personagens mais fortes são todas mulheres. Não quer dizer que em alguns casos o homem não fique próximo delas. Dizer que são mais fortes não significa grande coisa, mas são aquelas que têm um poder transformador. Não é que venham dizer que vêm trasformar, é a sua própria presença, o que fazem e o que dizem que mostra que com o aparecimento delas alguma coisa vai mudar". - José Samarago, 2009.

E ela muda. A mulher do médico se torna os olhos de todos do seu grupo, é uma mulher forte e consciente de que a qualquer momento pode cegar e as vezes até o deseja, pra não ter que olhar a miséria e o descaso em que foi entregue a humanidade. Tudo o que eles conheceram como civilizado um dia, vem por água abaixo. A realidade agora é uma busca pela sobrevivência. Tudo que necessitamos para sobreviver se torna escasso. O homem retorna as origens, é uma verdadeira odisséia, agora sem herois, apenas humanos. Fracos, cegos, sujos e maltrapilhos. Doentes. Como tudo isto termina? Eles retornam a ver, a mulher do médico que fica uma icógnita no final, cegou ou não?

Como complemento indico o filme, Ensaio sobre a cegueira, direção de Fernando Meirelles que estreiou em 2009 e conta com um elenco de primeira, algum destes nomes podem lhe ser comuns: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover, Gael García Bernal, Sandra Oh, Don McKellar, Maury Chaykin, Yusuke Yseya, Yoshino Kimura.
Abaixo o trailer legendado, mas não deixem de ler, ao final, somos todos cegos mesmo! Beijo galera!

Nenhum comentário

Postar um comentário

Deixe aqui um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Layout por O Mundo Por Dentro Dos Livros - Tecnologia Blogger